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12 de mar. de 2013

Mariah, Aninha, e a tia.

Nem sei se ainda existe Salão da Criança, mas existia. Era um mundo de sonho pra quem tinha sete ou oito anos. Não havia celular, computador, nem elas sabiam nada desse assunto chamado marketing.

Mariah e Aninha foram com a tia, que logo avisou que podiam brincar com tudo que havia, mas dinheiro ela só levou para as entradas, condução de ida e volta, e olhe lá.
Fazia um calor abafado naquele dia, mas que importava isso pras meninas, que corriam felizes pra todo lado, suadas, fedidas. E a tia como suas sombras se esforçava pra não perdê-las de vista.
Mas menos de uma hora depois elas já não aguentavam mais de sede…
—Tia, compra um guaraná pra nós, só um pra nós duas! – pediu a Aninha.
Mas a tia tinha avisado, dinheiro entrou na bolsa contado.
Mesmo morrendo de sede as meninas não desistiam, iam em todos os brinquedos, riam sem parar, só que a sede foi apertando, e água mesmo aonde havia?
As camisetas grudadas no corpo, o suor com gosto de sal pela testa delas escorria…
— Tia, favor, só um guaraná…. – repetiu a pequena outra vez.
Guaraná não podia, caso encerrado. Encerrado? Pra cão e criança nada é definitivo. E logo as meninas avistaram um estande com umas crianças sentadinhas, algumas rindo, outras choramingando, quase todas bebendo guaranás e coca-colas. Na porta estava escrito  “Juizado de Menores” – e se ali não tinha brinquedo, tinha refrigerante, e Mariah e Aninha olhavam aquilo como quem estivesse num deserto diante de um oásis.
— Vamos meninas, pararam por quê? – ralhou a tia já com o coração na mão. — E só falta essa parte aqui, não tenho mais dez anos, ouviram?
Claro que ouviram, e seguiram em frente. Andando rápido e cheias de minhocas na cabeça, como se tivessem combinado alguma coisa que não combinaram. Assim que deixaram a tia pra trás, Mariah perguntou a uma senhora que empurrava um carrinho de bebê: — Moça, o que é aquele lugar ali? – disse, apontando com a mão.  Elas sabiam ler, mas não sabiam pra que servia o Juizado de Menores.  — Ali, ah… é onde guardam as crianças que se perderam das suas mamães.
Mariah agradeceu, ficou pensativa… olhou pra Aninha: — Vamos nos perder da tia?  Nem precisou de resposta, num instante estavam na porta do tal Juizado.
Aninha que era a mais velha peguntou ao guarda:  — Moço, nos perdemos da nossa mãe!
— Aonde? – perguntou ele. — Num sei, a gente foi naquele escorregador ali, quando descemos ela sumiu.
— Não tem problema, vamos achar sua mãe. Entra por aqui. – disse ele, pondo-as pra dentro e já perguntando o nome da mãe. E a tia virou mamãe no alto-falante que as anunciava no grande salão. Enquanto dentro do estande…
— Quer mais um guaraná?
Pelo tempo que a tia demorou pra chegar, elas se entupiram de guaranás e coca-colas. O Salão da Criança era como um sonho bom, e aquele oásis não era uma ilusão de ótica. A tia levou um baita susto, mas não surtou, nem bronca também deu – eram coisas de crianças (e de tias) de outros tempos.

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