
Num regime democrático o Estado tem que servir ao povo, mas não só não o serve como o engana o tempo todo.
No filme alemão, A ONDA, na programação semanal o professor escolhido pra dar as aulas sobre ANARQUISMO tem a aparência de um fascista, e o professor roqueiro que teve experiências mais condizentes com a matéria foi escolhido pra dar as aulas sobre AUTOCRACIA .
Este último, mais popular entre os jovens, começa sua aula perguntando aos alunos sobre regimes autoritários, ditaduras etc. Faz os alunos se colocarem diante de questões como “Quais as condições pra se ter um regime ditatorial?” E tem logo as respostas - “desemprego, falta de nacionalismo, inflação, desinteresse geral..”
Talvez a questão mais importante seja a negativa de todos sobre se na atual Alemanha haveria espaço pra um regime autocrático.
Como se fosse um ensaio geral, talvez mais próximo de algo como um psicodrama, o professor põe em prática uma ideia que lê num livro, e começa elegendo um líder, que por votação acaba sendo ele mesmo.
Agindo como tal, faz com que os jovens se comportem com um grau de obediência muito diferente do que estão habituados, pregando a união deles como uma “força extraordinária”, que pode mudar tudo. Sempre por votação, escolhem um nome e criam um logo - “A ONDA”. Decidem rapidamente por uma espécie de uniforme, que os diferenciará dos demais da escola, e criam um gestual de braços como um comprimento entre eles.
Movidos por essa força grupal os jovens passam a ganhar os jogos de pólo-aquático, que antes iam mal. Grafitam e espalham milhares de adesivos pela cidade com seu logo, e em dois ou três dias o movimento toma um rumo que foge ao controle do professor.
Mais importante que o envolvimento deles, a relação com seus pais, as críticas de alguns que não se inteiraram no grupo, é a postura do professor, que nos faz crer que com sua pedagogia original quer mostrar como é possível se chegar rapidamente a uma ordem autocrática (ele sabe das condições dos alunos com problemas familiares, desmotivados etc.), mas ao se sentir com um poder que nunca teve, ele esquece todos os preceitos de sua vida anterior e assume, até diante da mulher, também professora, essa atitude ditatorial inesperada.
Inesperada??? Bem aí me veio à cabeça um final de texto, que logo fará duzentos aninhos, do anarquista russo Bakunin, quando diz que todos os líderes ao chegar ao poder esquecem tudo o que falaram e fizeram pelo caminho, legislando em causa própria, e quem não compreende isso não entende nada da alma humana.
Eta, também me lembrei logo do ex presidente Lula quando em campanha presidencial falava da falta de dignidade desses vales (leite, transporte etc), criados com a inequívoca função eleitoreira, que lembrava, a ele, os portugueses trocando com os aborígenes os espelhinhos e bugigangas. E não muito mais tarde falando dos imbecis que não entendiam a importância da sua genial criação chamada bolsa família, que obviamente nada tinha de eleitoreiro.
Poder revira qualquer alma do avesso, isso não tenho dúvidas, só não sei o que vou dizer pros meninos aqui da minha rua!
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