Certamente
não há seres perfeitos, mas há coisas que são imperdoáveis, coisas que não
dependem da estrutura social, como matar sem motivo, roubar de quem nada tem, maltratar
animais indefesos, lesar a pátria com negócios escusos para benefício próprio,
ou se passar por outra pessoa pra ter o reconhecimento que não poderia ter.
O filme
holandês Caráter, e O Homem Mau Dorme
bem, de A. kurosawa, têm roteiros distintos, que se aproximam quando falam
sobre o conviver com culpas e não-culpas – o primeiro retrata um homem que carrega
sua cruz ao tentar reconquistar uma mulher, que é “caráter” acima de tudo, e
que não o perdôa; o segundo, mostra um empresário sem escrúpulos, que usa e
destrói até os filhos para se livrar de um crime.
O que
pensar quando um indivíduo armado que sai para roubar... depois, ainda que não
fosse sua intenção, sem nenhum pavor olha pro sujeito e dá um “tec”. Ou de um
que rouba o tênis sem marca e o dinheiro da condução de um operário na estação
do trem às 6hs da manhã? Ou do motorista que desvia da sua faixa na direção de
um quatro-patas para atropelá-lo? Ou, ainda, do político que cobra propina para fazer o que não devia.
Qual a
verdadeira personalidade desses indivíduos? São doentes? Têm culpas?
Alguns,
mais cedo ou mais tarde, têm remorsos e até mudam o rumo de suas vidas, mas no
caso dos que lesam a pátria, raramente devolvem o que se apropriaram. A culpa dói,
sim, pra quem a tem, e a 'mea culpa' não os absolve totalmente.
Agora, psicopatas
estão eximidos de culpas, e dormirão em paz até o último dia de suas vidas,
doentes sortudos que são, se o destino não lhes reservar algo trágico pelos
lesados, o que raramente ocorre.
J.J.Rosseau
no Discurso Sobre a Origem da Desigualdade Entre os Homens diz que o homem
nasce bom, e a sociedade o perverte.
Se é fato
que nas sociedades mais pobres e menos justas esses indivíduos proliferam numa
exponencial, também o é que nas sociedades mais desenvolvidas, psicopatas ou não,
eles também existem, e o filósofo estaria confuso se vivesse nos dias atuais,
quando caímos num abismo do ideário comunitário ao pensar que o homem já nasce
mau.
E se assim
for, como parece ser, ia dizer que então vivemos num enorme zoológico sem
jaulas – pura besteira, aliás, animal que não fala só luta pela sobrevivência.
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