Maria Rosa e o Príncipe Siciliano
Inteligente, bonita e honesta era só o que se ouvia onde trabalhava e vivia. Não era de muito lero-lero, discreta no falar e no vestir, aparentava tranquilidade de quem é bem resolvida, e nunca foi muito dada a conversa fiada. Mas quem a conhecia dizia que nervosa não lhe faltavam palavrões. Podia não combinar com sua aparência, mas raramente perdia a cabeça.
Nem pobre, nem rica, não sonhava com o que não podia, sempre com os pés no chão até conhecer o advogado italiano, que prestara um serviço onde trabalhava.
O siciliano lhe dera um cartãozinho, trocaram telefones, ele ligou algumas vezes... A solidão faz estragos em qualquer um. Logo veio o convite pra jantar. Ela teve tonturas - aceitou de pronto, mas se arrependeu em seguida. A cabeça girava, nunca soube lidar bem com essas coisas, e fazia tempo que não saía acompanhada desde o último namoro azarado.
O cara era bonitão, bom de conversa, e disse ser divorciado.
"Divorciado e solteiro é quase a mesma coisa..."
Querendo, mas não querendo, olhava o telefone, vontade que tocasse, mas se tocasse jurava que não atenderia. Com o cartãozinho dele na mão... a tentação. Mas ligar, nem pensar.
E o sábado não chegava nunca.
Controlada com as finanças domésticas, não gastava um centavo a mais do que o necessário. Mas sábado chegou e tinha que se arrumar... cabelos, unhas...
"Nossa, meu cabelo tá horrível, mas isso dou um jeito. Manicure? Bobagem, sempre eu mesmo fiz... e vai ser só as mãos, nem morta ele vai ver meus pés..."
Com os cabelos lambuzados com um creme, se depilou e foi fazer as unhas.
"Onde pus o vidrinho do esmalte? Tenho certeza que estava aqui, ou não... ah sim, da última vez foi na cama que fiz os pés... Puxa, não sabia que tinha validade, venceu faz mais de dois anos, agora tá um saco, tudo tem data de vencimento, antigamente eram só as contas, mas tudo bem, não é de comer mesmo..."
Nervosa, ficou uma merda, era melhor não ter feito. Não grudou direito, era só esfregar de leve que saía. Retocou, ficou pior. Pensou em remover, mas cadê a acetona? Acetona sabia que não tinha, da última vez tinha acabado e não lembrou de comprar.
"Vai assim mesmo, foda-se, quando ele segurar minhas mãos, e sei que vai segurar, vai estar olhando nada só pensando em me comer... mas não tenho mais vinte anos, deixa ele pensar que vai ser fácil... "
O italiano era um tipo sedutor e fez ela rir muito no restaurante. No carro, na porta do edifício que morava, chegou aquele momento que já sabia.
"Se ele pensa que vou convidá-lo pra tomar um café vai se ferrar, porque não vou mesmo, e se sugerir que podíamos tomar um café no meu apartamento vai dar no mesmo, vou dizer que acordo cedo e estou morrendo de sono... Não tenho mais vinte anos!"
Conversa vai, conversa vem, não se falou nada do tal café, mas chegou aquela hora que ele pegou suas mãos.
--- Nossa, você tem mãos lindas! Mas quem fez essas unhas?
---Ahn...?
"Caralho, eu só pensava em dar um tempo, mas sou uma imbecil, o cara é viado!"
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