Páginas

Translate

27 de jul. de 2014

"LINCOLN" - O FILME

A festa americana da indústria cinematográfica de 2013 foi como um juiz que estragou a partida de futebol. Django Livre e Lincoln são os que vão ficar na memória, os que valem à pena, mas quem venceu a maioria das indicações foi A História de PI, filme quase ridículo, que combina bem com os cinemas dos shoppings, e em 2014 não foi diferente - "Gravidade" levou quase tudo e não vai sobrar nada, porque não tem nada; enquanto "Blue Jasmine" mostrou com rara sensibilidade o que certamente não agrada à maioria - o  real.

Sobre "Lincoln", duas considerações - primeiro, a figura do ex presidente; depois, o filme propriamente dito.Por se tratar de tema documental, difícil separar a história da película. Obviamente não cabem em duas horas a vida de ninguém, e o que se escolheu, aos olhos dos que escreveram e roteirizaram, são os momentos mais marcantes de uma certa época.


Baseado no equilíbrio emocional e perseverança do presidente na luta pela abolição da escravatura, diante da rejeição de metade da população e seus representantes políticos, das milhares de mortes causadas pela Guerra  da Secessão, da vida familiar difícil, o filme mostra basicamente a luta não a qualquer preço, mas com algum preço, a complicada "compra de votos" de alguns poucos democratas para se alcançar o quorum necessário à aprovação pelos deputados da emenda constitucional.

Lincoln usou politicamente a guerra civil para atingir seu objetivo, mas nunca desejou nenhum tipo de retalhação aos perdedores. A não violência de Ghandi, para atingir seu objetivo, também fez milhares de mortes (No Mito da Caverna, onde todos só sabiam o mundo pelas sombras, o que se aventurou sair, foi morto quando ao retornar contou como era o mundo real). 


Líderes verdadeiros tem muitos seguidores e inimigos, e não ficam em cima de muros. Ambos foram assassinados quase da mesma forma.Se alguém  achou "Lincoln" chato e cansativo, compreendo e dou até razão por conter diálogos e particularidades dos meandros políticos a quem não se interessa nem conhece o mínimo. 


No entanto, se  alguém encontrou um paralelo com o "mensalão brasileiro" (a compra de votos do governo, para ter a maioria dos deputados na reeleição do presidente, e consequentemente o apoio nos futuros atos), só sinto muito.


Daniel Day- Lewis leva o filme com a precisão possível, com sua voz baixa tal qual a do ex presidente, e em alguns momentos tem-se a impressão que voltamos no tempo e assistimos não a um filme, mas o dia-a-dia de Lincoln, mérito de quem sabe fazer filmes como Spielberg. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário