Perguntaram a um cineasta o que era utopia (ao seu lado Eduardo Galeano suspirou – "ainda bem que essa não caiu pra mim..." ).
O cineasta disse: "Utopia é aquilo que perseguimos, mas a cada passo que damos ela se afasta..." Logo voltaram a lhe perguntar: "Então pra que serve a utopia?"
"Serve para caminharmos.." – respondeu.
Penso ser a resposta mais sintética e precisa que já ouvi, fala sub-repticiamente do destino.
Ter um sonho e persegui-lo por toda uma vida, e lá distante, às vezes nem tão distante, a visão concreta desse desejo... mas esse quase é inatingível. Serviu, sim, para caminhar e dar razão a existência, mas a utopia mostrou que o livre arbítrio não é irrestrito.
Que ninguém duvide, que à priori não é impossível que um indivíduo comum se torne um astronauta ocasional. Não é necessário ser atleta, só é preciso ter boa saúde e muito dinheiro, condição aliás básica, que quem não tem pode vir a ter, o que não é impossível. Mas o objetivo, essa razão de ser, faz-se água se o indivíduo na última hora tiver náuseas, dor de estômago ou mostrar paúra – reprovado, acabou o sonho. Não foi por falta de desejo, obstinação, luta, apenas seus genes não quiseram que fosse possível, porque esse era seu destino.
A utopia não é órfã do destino escrito pelo indivíduo.
Que se constrói com o que nos foi presenteado pelo genoma e por tudo que está ao nosso redor finito, somado as quase infinitas possibilidades do pensamento, cujas escolhas, conscientes e inconscientes - o livre arbítrio - determinam nossa existência. A estrada é larga, sinuosa e longa, tem vista e pode-se parar no acostamento, mas também tem buracos e não é de dupla mão.
Aos que creem que suas atitudes são regidas pelo mistério, que suas conquistas se devem a ele, tal como seus erros, e são candidatos à plenitude se forem merecedores, nada do que penso tem o poder de mudar uma vírgula quando as palavras são revestidas de fé.
E o que me aflora desde sempre, é que a única coisa que não se pode discordar, é que com as palavras exatas tudo deste mundo pode ser dividido em dois - não exatamente em partes iguais, mas em dois: os brancos e os não brancos, os que fumam e os não fumantes; crentes e descrentes; os mais ou menos honestos e os desonestos; os muito doentes e os menos doentes, os que concordam e os que discordam etc.
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