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31 de dez. de 2016

O GRANDE MANICÔMIO


Pistas exclusivas para bikes, mega festas comemorativas para multidões, ideias públicas para pôr um tempero na vida insossa das grandes cidades.

Como tudo é só provisório, no dia-a-dia a cidade fede a esgoto e tetra etila de chumbo, e os pequenos parques esmagados pelas edificações servem aos celulares e a parafernália eletrônica, que se comunica sem se comunicar, para o passeio com seus amos.

Quantos não chegam do trabalho exaustos e caem nos assentos em frente a TV, por falta de energia ou por não se disporem arriscar a vida numa simples caminhada em seus quarteirões. As grandes cidades engolem o homem porque não é ele a verdadeira razão do Estado, e não será urbanista, psicólogo, polícia ou político, que ajudará a mudar.

O coração das metrópoles está doente, a periferias se espalham como tinta derramada sobre o mapa, e nenhuma Lei que tenta organizar esse caos se sobrepõe ao que é regido pelo poder econômico. 

Seria mais humano abrir mais clareiras no concreto, onde há espaços cercados à espera de valorização, que o Estado poderia transformar em algo útil à maioria. Poderia, mas não sem as eternas discussões sobre as prioridades do orçamento público, que ao Estado endividado a utopia da transformação não vai nunca além do básico. E o tal espaço interessante morre antes de nascer, ninguém viu começar e já temos mais um conjunto de edifícios, um shopping center.

O planejamento público está sempre atrasado nas soluções dos mega-problemas, corrida perdida se os rumos do desenvolvimento não forem mudados. Isso é válido para todos os cantos, agravado com a pobreza. E o grande canteiro de obras que são as metrópoles é mais que a geração de empregos ou solução verdadeira para o homem, é uma fábrica de problemas - o medo associado à crescente violência, a insatisfação geral com o caos na movimentação urbana, e tudo aquilo que qualquer um de nós sabe enumerar, fere a cidadania.

E machuca tanto, que à 'maioria da minoria' o problema, a verdadeira razão de todo o mal está na péssima educação pública, ou nos políticos . Políticos são mesmo culpados, e educação de qualidade pra todos não existe. Ninguém está errado, mas o que mais pesa nessa balança é a falta de caráter dos que não estão nem aí com nada, que conscientemente ou não, usam o sufrágio para eleger o que há de mais pernicioso ao país, sempre à mercê do poder econômico, e o sistema tem uma doença sistêmica, uma chaga que não vem do mosquito!

Eu não gosto dessa doença que lesa a pátria, e tampouco sei lidar com esse mosquito que não é um mosquito! Então dispenso a realidade insana, e sonho com um outro tempo, sem cenários com arco-íris ou gente sorrindo sem motivo, sem religião, partidos políticos, mas com o remédio simples para extinguir o que não vai bem - espontaneamente e sem lideranças, de cada cidade, de toda cidade, empresários, pensadores, professores, governantes, os que plantam e colhem com as mãos, os que varrem as ruas, todos reunidos numa mesa deca métrica, diante de uma única questão, iniciada por "Nós herdamos essa merda e somos responsáveis por isso...".



Um comentário:

  1. Quanto mais não seja, no surdo silêncio das cidades qualquer voz de tinta ou cor é sempre uma flor. Fico-lhe grato, Vilela, por expressar a sua coerente lucidez e assim me ajudar a sonhar também. É que esse sonho por ser nosso é tão possivel! E seria tão fácil resolver todos os problemas, debelando a doença. Acredito mesmo que um dia será assim. É que... "... o sonho comanda a vida..." e eles a maioria da minoria não o sabem nem sonham.

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