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26 de jul. de 2017

NÃO IMPORTA QUE NINGUÉM LEIA, EU NÃO ME CHAMO MARTA.

Não sei porque às vezes ele me chama de Marta, mas não me chamo Marta, já disse mil vezes. Sei que acertar com marido deve ser loteria, mas igual ao meu acho que não tem nenhum, e sou muito idiota mesmo de não ter percebido desde o início, se bem que não era tanto, virou fetiche, sei lá, essa pegação com a matemática. Agora deu pra falar desde o café, que o plano é feito por três pontos, ou uma reta e um ponto, e me pergunta se compreendo. Plano pra mim sempre foi uma ideia pra se executar, mas ele quer me enfiar na cabeça de qualquer jeito os princípios básicos que norteiam sua vida, e se já odiava matemática muito antes dele, imagine agora com um marido que calcula os watts quando toma banho, se pega uma camisa fala quanto custou três minutos de passar a ferro, faz simulação até das emoções. E quando diz que os números são a chave do universo, que o homem não tinha pisado na lua sem a matemática, eu penso, que fosse ele da ONU se não ia propor que todos humanos fossem numerados, nome pra quê, diria, tem pronúncia complicada nos diferentes idiomas, tem homônimos que só trazem confusão, o sujeito chamado de ‘um trilhão, duzentos e dez milhões, treze mil, duzentos e nove’, seria único, inconfundível, podia ser mongol, panamenho, basco... era só digitar o número e o google diria onde e quando nasceu, onde estudou etc., agora, se eu pensasse em retrucar, e dissesse, cê acha que dá pra chamar sua mãe de ‘dois trilhões e o escambau’, certamente ele faria aquela cara de quem acha que sou burra demais, e diria, claro que não, em casa pode-se continuar com nomes, números são para documentos, certidões, pras coisas públicas... Dá não, suas múmias fenícias, gregas! Seja lá quem inventou os números e a matemática nunca imaginaria existir um assim, acho que se desencarnassem e ficassem meia hora com ele iam rapidinho 'desinventar' tudo. Até quando tá de porre ele olha pra garrafa e fala quantos ‘moles’ tem no percentual de álcool. Seus sonhos então devem ser abarrotados de máquinas de calcular, computadores, registradoras, e não deve faltar uma lousa enorme toda rabiscada de giz, cheia de equações, matrizes, diferenciais, e números imaginários à enésima potência... Precisava de um psicólogo, mas acha que sou eu quem devia ir, e agora ainda começou a falar que vai fazer do coitado do menino uma cópia melhorada dele, que o destino faça do meu filho um carroceiro se for pra escapar dessa armadilha, prefiro. Sou muito covarde, mas tô pensando em fugir, sumir dessa vida com o garoto, pesquisei nos mapas um lugar, que ele podia morrer de fazer cálculos e nunca me encontraria, mas é longe e caro, e só de saber que preciso guardar dinheiros, fazer contas, tenho taquicardia e passo mal. Mamãe não sabe de nada quando diz que ele é um bom homem, que deus me perdoe se fico orando quando ele dorme pra sua cabeça ter um curto-circuito, só espreitando na escuridão se aparece uma fumacinha qualquer e saber que acabou.

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