O GOL MAIS BONITO DO MUNDO
França, depois Suécia, e o Brasil foi campeão do mundo em 58. Era bem pequeno, mas nunca esqueci os rostos daquelas pessoas, que ouviam os auto-falantes e acompanhavam o jogo pela movimentação das luzinhas no painel gigante montado na Pça da Sé.
Sem ver o campo e os jogadores, o rádio é quem dava corda à imaginação. A Europa, com a ajuda do Sputinik , pôde ver os jogos ao vivo, quando se iniciou uma nova era nas telecomunicações.
Filmados em 16mm e vendidos para as televisões da América, os jogos e reportagens puderam ser vistos aqui depois da conquista. Lembro que a seleção Argentina teve uma derrota humilhante e foi recebida com uma chuva de moedas quando chegou.Nesse momento, um garoto chamado Pelé nasceu pro mundo, e foi, seguramente, o brasileiro mais conhecido em todos os continentes.
Quase quarenta anos passados vi na TV grega, na entrada do noticiário do horário nobre, imagens dele numa jogada rara que não resultou em gol, quando engana Mazurquievski, goleiro do Uruguai da copa de 70. Por que alguém repetiria todos os dias, pra milhões, um lance onde o jogador chuta a bola fora? Só quem tem paixão pelo futebol pode entender isso.
Mas não sei como nasce essa paixão, mesmo quando uma família inteira não se interessa.Com menos de dez anos, no campo dos bois, na Moóca, dia de semana à tarde, eu pensava que jogava futebol com os amigos da escola. Nós amávamos aquilo apesar de nos sentirmos minúsculos. Lá dentro tudo era gigante - bola, trave, a distância entre os goleiros, muito diferente de ver de fora o mesmo campo aos domingos, quando jogava o meu time do coração, Pascoal Moreira, com a camisa que na época lembrava a do Benfica.
Nunca fora a um estádio e pra mim aquele era o melhor time do mundo. Não perdia nenhum jogo, nem com chuva. E foi com chuva que vi o mais fantástico e inusitado gol da minha vida inteira. Puskas, Pelé, Garrincha, Messi, ninguém fez nada parecido, e vez por outra aquela imagem que nenhuma câmera registrou, que debaixo de um aguaceiro pouquíssima gente viu, me vem à cabeça.
Por acaso, quando li esta semana que morreu em 2005 aos 61 anos de idade, o Pelé loiro, meu ídolo da infância, lembrei esse que matou a bola no peito dentro da área, pôs no chão, e, ainda quicando, deu quatro chapéus seguidos em dois zagueiros antes de marcar num chute simples, rasteiro, sem defesa.
Descendente de polonês, com dezesseis anos teria também encantado o mundo se o vissem naquela época, mas o destino não é igual pra ninguém. Era um pessoa ótima, e foi um bom jogador quando se profissionalizou, mas não muito mais que isso nos dez anos que vestiu a camisa do Coritiba pelo campeonato brasileiro, Kosilek ele se chamava.
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