O GRANDE MANICÔMIO
Pistas exclusivas para bikes, mega festas comemorativas para multidões em
dias marcados no calendário, idéias públicas para pôr um tempero na vida
insossa das grandes cidades.
No dia-a-dia são as calçadas esburacadas cheirando a tetra etila de chumbo,
e os pequenos parques esmagados pelas edificações, os espaços onde celulares, e
a parafernália eletrônica que se comunica sem se comunicar, passeiam com seus
amos.
Quantos não chegam do trabalho exaustos e caem nos assentos em frente a
TV, por falta de disposição ou por não se disporem arriscar a vida numa simples
caminhada em seus quarteirões.
As grandes cidades engolem o homem porque não é ele a verdadeira razão do
Estado, e não será urbanista, psicólogo, polícia ou político, que ajudará. O coração
das metrópoles anda mal, as periferias se espalham como tinta derramada sobre
um mapa, e nenhuma Lei que tenta organizar esse caos se sobrepõe ao que é
regido pelo poder econômico.
Entre muitas outras coisas, seria mais humano se abrissem clareiras no
concreto. Ali mesmo, em muitas partes de qualquer cidade, há espaços cercados à
espera de valorização, que o Estado poderia transformá-lo em algo útil à
maioria. Poderia, mas não sem as eternas discussões sobre as prioridades do
orçamento público, que ao Estado endividado a utopia da transformação não vai
nunca além do básico.
E o tal espaço interessante morre antes de nascer. Ninguém viu
começar e já temos mais um conjunto de edifícios ou um shopping center no
lugar. O planejamento público está sempre atrasado nas soluções dos
mega-problemas, corrida perdida se os rumos do desenvolvimento não forem
mudados. Isso é válido para todos os cantos, agravado com a pobreza.
E o grande canteiro de obras que são as metrópoles é mais que a geração
de empregos ou solução verdadeira para o homem, é uma fábrica de problemas - o
medo associado à crescente violência, a insatisfação geral com o caos na
movimentação urbana, e tudo aquilo que qualquer um de nós sabe enumerar, fere a
cidadania.
E a 'maioria da minoria' encontra na falta de uma boa educação ou
nos políticos, a razão de todo o mal. Políticos são mesmo culpados, e educação
de qualidade pra todos não existe, ninguém está errado. Mas o que mais pesa nessa
balança é a falta de caráter dos que não estão nem aí com nada, que conscientemente
ou não, usam o sufrágio para eleger o que há de mais pernicioso ao país,
fazendo com que o sistema sofra de uma doença sistêmica à mercê do poder econômico,
chaga que não vem do mosquito!
Eu não gosto dessa doença que lesa a pátria, e tampouco sei lidar
com esse mosquito que não é um mosquito! Então dispenso a realidade dos insanos,
e sonho com um outro tempo, sem cenários com arco-íris ou gente sorrindo sem
motivo, sem religião, partidos políticos, mas com o que importa, o remédio
simples pra extinguir a doença sistêmica.
Espontaneamente e sem lideranças, de cada
cidade, de toda cidade... empresários, pensadores, professores, governantes, os
que plantam e colhem com as mãos, os que varrem as ruas... todos reunidos numa
mesa deca métrica, refletindo sobre uma única questão, iniciada por "Nós
herdamos essa merda e somos responsáveis por isso...".
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