Páginas

Translate

31 de dez. de 2013

O GRANDE MANICÔMIO

Pistas exclusivas para bikes, mega festas comemorativas para multidões em dias marcados no calendário, idéias públicas para pôr um tempero na vida insossa das grandes cidades.



No dia-a-dia são as calçadas esburacadas cheirando a tetra etila de chumbo, e os pequenos parques esmagados pelas edificações, os espaços onde celulares, e a parafernália eletrônica que se comunica sem se comunicar, passeiam com seus amos.



Quantos não chegam do trabalho exaustos e caem nos assentos em frente a TV, por falta de disposição ou por não se disporem arriscar a vida numa simples caminhada em seus quarteirões.



As grandes cidades engolem o homem porque não é ele a verdadeira razão do Estado, e não será urbanista, psicólogo, polícia ou político, que ajudará. O coração das metrópoles anda mal, as periferias se espalham como tinta derramada sobre um mapa, e nenhuma Lei que tenta organizar esse caos se sobrepõe ao que é regido pelo poder econômico. 



Entre muitas outras coisas, seria mais humano se abrissem clareiras no concreto. Ali mesmo, em muitas partes de qualquer cidade, há espaços cercados à espera de valorização, que o Estado poderia transformá-lo em algo útil à maioria. Poderia, mas não sem as eternas discussões sobre as prioridades do orçamento público, que ao Estado endividado a utopia da transformação não vai nunca além do básico.



E o tal espaço interessante morre antes de nascer. Ninguém viu começar e já temos mais um conjunto de edifícios ou um shopping center no lugar. O planejamento público está sempre atrasado nas soluções dos mega-problemas, corrida perdida se os rumos do desenvolvimento não forem mudados. Isso é válido para todos os cantos, agravado com a pobreza.



E o grande canteiro de obras que são as metrópoles é mais que a geração de empregos ou solução verdadeira para o homem, é uma fábrica de problemas - o medo associado à crescente violência, a insatisfação geral com o caos na movimentação urbana, e tudo aquilo que qualquer um de nós sabe enumerar, fere a cidadania.



E a 'maioria da minoria' encontra na falta de uma boa educação ou nos políticos, a razão de todo o mal. Políticos são mesmo culpados, e educação de qualidade pra todos não existe, ninguém está errado. Mas o que mais pesa nessa balança é a falta de caráter dos que não estão nem aí com nada, que conscientemente ou não, usam o sufrágio para eleger o que há de mais pernicioso ao país, fazendo com que o sistema sofra de uma doença sistêmica à mercê do poder econômico, chaga que não vem do mosquito!



Eu não gosto dessa doença que lesa a pátria, e tampouco sei lidar com esse mosquito que não é um mosquito! Então dispenso a realidade dos insanos, e sonho com um outro tempo, sem cenários com arco-íris ou gente sorrindo sem motivo, sem religião, partidos políticos, mas com o que importa, o remédio simples pra extinguir a doença sistêmica.



Espontaneamente e sem lideranças, de cada cidade, de toda cidade... empresários, pensadores, professores, governantes, os que plantam e colhem com as mãos, os que varrem as ruas... todos reunidos numa mesa deca métrica, refletindo sobre uma única questão, iniciada por "Nós herdamos essa merda e somos responsáveis por isso...".

Nenhum comentário:

Postar um comentário