Jean de Florette e a Vingança de Manon
filme Claude
Berri – 1986
Fiquei muito tempo atrás dessas cópias com
qualidade de imagem e tradução. Já assitira há muitos anos este que considero
uma das melhores coisas feitas no cinema, gostaria que mais amigos tivessem
visto, pena.
Fora da política partidária ou das corporações,
humanos ainda são humanos e nem toda maldade passa sem reflexões aos que
defendem seus interesses pessoais, ainda que o assunto seja o poder e o
dinheiro, se advindo do trabalho braçal de gerações.
Ambientado nos anos 20, numa pequena comunidade
rural da Provence, Cesar Soubeyran (Yves Montand), patrono de uma família quase
extinta, exceto por Ugolin (Daniel Auteuil), seu sobrinho, que voltou da guerra
obstinado em produzir cravos, e que depois de fazer mistério com o tio, mostra
sua pequena e maravilhosa plantação. Só que cravos bebem mais água que qualquer
outro vegetal, e é necessário água corrente para uma produção numa escala
maior.
Numa região sem rios e que pouco chove, disposto a
ajudar o sobrinho, Cesar tenta comprar uma propriedade que tem uma mina
soterrada, que o proprietário, um velho ranzinza, que o detesta, desconhece – ao
lado do sobrinho a negociação pouco durou, logo partiram para o vis-a-vis e o
velho bateu a cabeça numa pedra.
Cesar imagina que ficaria mais fácil a compra,
uma vez que os herdeiros da propriedade são moradores da cidade, que nada
entendem das agruras do campo. Não impensadamente, ele e Ugolin acompanham com
boas vindas a chegada dos novos moradores -
um corcunda, sua mulher e uma menina (Gérard Depardieu, Élisabeth
Depardieu, Emmanuelle Béart), que com ideias de livros tentam mudar seus hábitos
em troca de uma vida saudável e sustentável.
Todo o enredo se baseia na luta pela
sobrevivência desta família com a falta de água, tendo uma mina na propriedade
que desconhecem. Ugolin sofre vendo-os carregar água de longa distância, Cesar
mostra também algum tipo de incômodo, mas eles não podem saber ou jamais
desistiriam, e o desistir dali era o que desejavam.
Os cravos importavam mais que a penúria da família,
não em si, mas porque representavam a possibilidade de Ugolin, que era bem
prejudicado, se desenvolver, ter uma família, herdar a fortuna do tio e continuar
a saga dos Soubeyran. Na pequena comunidade todos também sabiam da existência
desta mina e se calaram, ninguém se metia com a vida dos outros.
Último filme de Montand, que para aprender o
sotaque do francês da Provence passou alguns meses lá antes da filmagem. Mais
que isso não devo falar. Alguns consideram um tratado sobre a maldade humana, mas
não sem arrependimentos.
Na última
cena da Vingança de Manon, depois de quatro horas de projeção, tudo encaixa – e
é o horror não como castigo, mas como peça do destino. Ou como castigo se alguém
quiser ver assim.
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