‘Virtuoses’
e Gênios.
O
mundo civilizado, que presta alguma atenção à arte, se encanta com os ‘virtuoses’
– esses que chegam a quase perfeição no que escolheram como forma de enganar o
tempo (ou foram escolhidos), que além do presente divino, ou genético, chamado
talento, têm a incomum força de vontade até o sacrifício, centrados que são nos
estudos e objetivos.
E
quando se pensa em ‘virtuosidade’ é comum a conexão com musicistas, mas também existe
na literatura, ballet, pintura e escultura, porque por melhor que sejam, nenhum
expoente economista, publicitário, arquiteto etc, se enquadra no termo, que não
se aplica a outras áreas do conhecimento, nem a arte aplicada.
A
maioria dos ‘virtuoses’ se dão bem no mundo real, que aprecia suas técnicas e
sensibilidades, e retribui lotando teatros, comprando seus livros ou pinturas, cujo
valor de troca é efetivo. Claro que podem também ter alguma genialidade, mas
ainda que quebrem protocolos em certas ocasiões, não são ‘gênios’.
Não
estão à frente do seu tempo como os ‘gênios’, que por romperem com estruturas
conhecidas e pré-estabelecidas são mal compreendidos, quando não mal vistos,
chamados de loucos ou rejeitados, e seus
valores de troca são compatíveis com essa distância entre o que fazem e o que
deles se entende, isso desde que a palavra existe. Podem ser admirados, mas não
existe ‘gênio’ bem de vida no sentido monetário.
Quando
são músicos ou musicistas, ‘gênios’ não elegem um único instrumento; se
escrevem, não só escrevem. O mesmo se aplica aos que pintam ou esculpem – e
todos têm em comum além do conhecimento, uma certa falta material e uma dose de
loucura pela busca incessante não pela perfeição, mas pelo desconhecido.
Na
música houve e há muitos ‘virtuoses’, mas quantos Beethovens? (Hermetos?) Na
literatura, poética filosófica, quantos F.Pessoa ou Nietzsche? Nas artes
plásticas há muitos ‘virtuoses’, poucos como Miquelângelo, Rembrant, Canova,
mas nenhum como Van Gogh, Da Vinci ou Claudel. E ainda que não se adapte bem o
termo, incluiria no cinema os ‘virtuoses’ Tarkovski, Kurosawa, Bergman,
Truffault, e mais uns tantos, mas nenhum como Fellini ou Wells.
Haverá quem não concorde sobre o que penso e sobre
os citados e não citados, não é aritmética, apenas uma reflexão sobre a
diferença que normalmente não se faz entre a sensibilidade aliada à técnica
esmerada e os que têm nas estrelas a inspiração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário