E A NÓS, A LIBERDADE!
“E
a nós, a Liberdade!” René Clair, 1931. Não vi isso ontem, mas há trinta e
poucos anos, e não muda nada. Só dasvez
eu escrevo, e não vou falar sobre o filme, apenas que as imagens quase sem
textos mostram que a função do cinema não é só espetáculo.
Tanto
no grego, como no latim, a palavra liberdade nasceu associada ao movimento
livre do corpo ou do pescoço sem os grilhões dos escravos, ou para diferenciar
um povo livre do escravizado.
Na
atualidade e num sentido mais abrangente, a palavra liberdade só não é uma
mentira completa, porque os gregos também
inventaram a palavra utopia, que significa um não-lugar, ou seja, algo
inexistente, que se completam como numa simbiose.
Completam-se
porque liberdade é a utopia de quem está numa prisão, ou se sente numa jaula num
trabalho que aflige, numa cidade que detesta, num país escravizado, numa
família que sufoca, numa dor canalha; ou ainda, num corpo danado com mais perguntas
que respostas, que entre o desejo e o sentido real da liberdade há uma montanha
intransponível, e não se pode escalar um conceito, uma invenção semântica.
Quem
se propõem metas e as busca com afinco e dedicação, ainda que se as atinja na
plenitude, o máximo que pode dar a si é o prazer do dever cumprido, só um inútil
elogio ao ego, que necessita exatamente do oposto para uma centelha da
verdadeira liberdade - a ideia da felicidade plena desse não-lugar onde existe amor
ao próximo, misericórdia, justiça, respeito, e tudo funciona.
Se
cada qual tem seu desígnio não há como mensurar as diferenças nos quase
infinitos caminhos do desejo, mas o sentimento de liberdade é factível quando o
incerto dá lugar ao certo e o risco sobrepuja o que é seguro na quase
impossível vida sem roteiros.
Alguns
provam desse estado da alma: aqueles cuja vida é muito simples, com pouco ou
nenhum contato com a teia tecnológica e a
globalidade, que rejeitam as ofensas sem esforço e fazem das intrigas como o
canto das aves, que não se gravam, e, que vez por outra se embebedam, desafinam
o canto, falam a língua dos seus animais, e brincam com a consciência se afastando
delas por momentos.
De
outras formas, fora da loucura, respirar
as moléculas da liberdade do alto da
montanha, só se despregando das raízes num
voo sem plano – o desapego total do confortável ‘desconforto’ do casulo.
Perfeito! Um auge de liberdade de expressão e discernimento de quem vê " além do casulo" .
ResponderExcluirRaro alguém escrever aqui, obrigado.
ExcluirNem sempre o casulo é desconfortável, alguns precisam dele como proteção. Difícil é sair da zona de conforto e enfrentar a "liberdade", isso requer ousadia, coragem, né?
ResponderExcluirBjs e obrigada por ter me mandado o texto.
Este é o problema de arriscar, como disse, Estela Maria de Carvalho.
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