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20 de fev. de 2017

E A NÓS, A LIBERDADE!


“E a nós, a Liberdade!” René Clair, 1931. Não vi isso ontem, mas há trinta e poucos anos, e não muda nada. Só dasvez eu escrevo, e não vou falar sobre o filme, apenas que as imagens quase sem textos mostram que a função do cinema não é só espetáculo.

Tanto no grego, como no latim, a palavra liberdade nasceu associada ao movimento livre do corpo ou do pescoço sem os grilhões dos escravos, ou para diferenciar um povo livre do escravizado.

Na atualidade e num sentido mais abrangente, a palavra liberdade só não é uma mentira completa,  porque os gregos também inventaram a palavra utopia, que significa um não-lugar, ou seja, algo inexistente, que se completam como numa simbiose.


Completam-se porque liberdade é a utopia de quem está numa prisão, ou se sente numa jaula num trabalho que aflige, numa cidade que detesta, num país escravizado, numa família que sufoca, numa dor canalha; ou ainda, num corpo danado com mais perguntas que respostas, que entre o desejo e o sentido real da liberdade há uma montanha intransponível, e não se pode escalar um conceito, uma invenção semântica.


Quem se propõem metas e as busca com afinco e dedicação, ainda que se as atinja na plenitude, o máximo que pode dar a si é o prazer do dever cumprido, só um inútil elogio ao ego, que necessita exatamente do oposto para uma centelha da verdadeira liberdade - a ideia da felicidade plena desse não-lugar onde existe amor ao próximo, misericórdia, justiça, respeito, e tudo funciona.


Se cada qual tem seu desígnio não há como mensurar as diferenças nos quase infinitos caminhos do desejo, mas o sentimento de liberdade é factível quando o incerto dá lugar ao certo e o risco sobrepuja o que é seguro na quase impossível vida sem roteiros.


Alguns provam desse estado da alma: aqueles cuja vida é muito simples, com pouco ou nenhum contato com  a teia tecnológica e a globalidade, que rejeitam as ofensas sem esforço e fazem das intrigas como o canto das aves, que não se gravam, e, que vez por outra se embebedam, desafinam o canto, falam a língua dos seus animais, e brincam com a consciência se afastando delas por momentos.

De outras formas, fora da loucura,  respirar  as moléculas da liberdade do alto da montanha,  só se despregando das raízes num voo sem plano – o desapego total do confortável ‘desconforto’ do casulo.



4 comentários:

  1. Perfeito! Um auge de liberdade de expressão e discernimento de quem vê " além do casulo" .

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  2. Nem sempre o casulo é desconfortável, alguns precisam dele como proteção. Difícil é sair da zona de conforto e enfrentar a "liberdade", isso requer ousadia, coragem, né?
    Bjs e obrigada por ter me mandado o texto.

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  3. Este é o problema de arriscar, como disse, Estela Maria de Carvalho.

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